segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Vatos Entrevista: Marcelo Diniz de "Papéis de Copérnico"

O lançamento de um novo Clube de Cinema do Fora do Eixo, já é motivo de grande festa para toda a rede e em especial para o ponto onde a ação é desenvolvida. Mas este vem acompanhado pela estréia de uma produção local audio visual, a festa é completa. E não estamos falando de qualquer produção: "Papéis de Copérnico" é o primeiro filme de Marcelo Diniz. Totalmente produzido em powerpoint (!) a obra é uma mostra de que a revolução digital empoderou de fato o talento e o empreendedorismo com os meios de produção. Para falar um pouco mais sobre o filme, batemos um papo com Marcelo Diniz:

Vatos (V): Conte um pouco de onde veio a ideia do roteiro do filme.
Marcelo Diniz (MD): Desde criança eu sempre gostei de escrever histórias. Cresci no meio de artistas da minha cidade; atores, compositores, pintores e etc... Sempre ouvi muito. O roteiro foi uma homenagem ao grande astrônomo Copérnico. Dentre todas as descobertas da ciência, a dele é a mais deslumbrante de todas. Descobrir que a terra que gira em torno do sol, praticamente a olho nu, naquela época ainda, é demais. Quando li sobre isso me emocionei. Por isso enfatizei sua pintura que pode significar muita coisa. Obviamente existem outras descobertas importantes, mas essa merece um destaque. Eu sempre gostei de olhar as estrelas, de sonhar, de fantasiar os confins do universo. Isso influenciou no roteiro.

V:
Vc usou o powerpoint como ferramenta na produção do filme. De onde surgiu a idéia de usar essa plataforma e quais os desafios que essa escolha impôs à produção do filme ?

MD:
Na verdade eu sempre trabalhei com o Powerpoint desde quando este surgiu. Foram anos de experimentos. Muitas apresentações escolares, profissionais e jogos. Certo dia estava em casa curtindo uma dor de cutuvelo (risos) e então pensei "Tenho que fazer alguma coisa pra focar a mente em algo que me fará esquecer essa mulher". Daí fiz uma cena. Gostei do resultado. Era uma cena qualquer, sem intenção de filme. De repente me veio a ideia de montar um curta. Baixei centenas de imagens do google e muitos gifs da rede e comecei a catalogá-los. Quando vi eu já estava viciado em baixar imagens e gifs. Ao saber que o powerpoint lia esse tipo de formato (gifs) fiquei deslumbrado. Então comecei a trabalhar neste roteiro. O grande desafio deste tipo de filme é que no powerpoint a linha de tempo é distribuida em cada slide. Isso é um dificultador, já que em determinadas cenas contêm vários slides. Assim sendo, é preciso colocar a trilha sonora, o som ambiente e as vozes no primeiro slide da cena e colocando a legenda a medida que o som se apresenta. Como o filme é com imagens estáticas, foi preciso faze-lo em inglês para que, enquanto o telespectador ler, as imagens se movimentam em seu único formato. O mais difícil era encaixar a legenda juntinho com o Áudio. As vezes o áudio se inicia no slide 23 e a legenda deste áudio tem que ser colocada no slide 34. Eu tinha que ficar cronometrando isso, sem contar que, o peso do arquivo, durante a apresentação, gera um pequeno atraso entre o áudio e as imagens, assim sendo, a margem de erro disso era de 0,5 segundos. O que significa muita coisa na leitura e na colocação da legenda. Mas eu consegui com muita paciência. Pelo menos a primeira parte.

V:
Você tem longa história na música vespasianense, fale um pouco sobre o que pensa da transversalidade das linguagens artísticas.

MD:
A arte está presente desde os primórdios. Gosto sempre de contar a ordem das artes. A primeira foi a música. O homem na caverna ouvia os sons dos pássaros, batia em troncos ocos e assim nascia a música. Consequentemente veio a segunda arte que é a dança. Depois veio a terceira a arte que é a pintura, o uso das mãos para exprimir o que os olhos viam, mesmo as pinturas abstratas. A quarta arte veio com a escultura, que significa o domínio da matéria. A quinta arte foi a literatura, o registro dos feitos e o nascimento da cultura mundial. Isso é o mais brilhante. A sexta arte é o teatro, a imitação da vida. A sétima arte é o cinema, o mundo digital. O que penso sobre a transversalidade é a mistura de todo esse emaranhado. Tudo é valido na arte, desde o horror ao encantador. Acho que o que não se pode é fazer arte sem amor visando apenas o dinheiro. O reconhecimento artístico vale mais do que qualquer fortuna. Vejo muitas pessoas preocupadas se um hit vai pegar ou não, se vai vender ou não. Vejo muita gente fazendo a arte para o povo e não para si mesmo. Eu fiz este filme para mim e para meus amigos. Tanto é que os personagens levam seus nomes. Mas este reconhecimento e este apoio que estou tendo do coletivo Vatos, da secretária de cultura de vespasiano Kátia Albano Salomão e toda sua equipe me deixou muito orgulhoso e feliz. Meus amigos e familiares estão confiantes nessa estréia dia 06.Confesso que nem esperava tanto e estou até me achando (risos)

V: Quais as expectativas com a estreia do filme ? E os planos para distribuir o mesmo ?
MD:
Já estou com frio na barriga só de imaginar aquele cinema cheio. Mas acredito que essa novidade possa estimular muita gente. O grande lance deste filme é justamente onde ele foi feito. Muitas pessoas utilizam o Powerpoint para enviar mensagens correntes, bonitas, para fazerem trabalhos escolares e até apresentações profissionais. Com um pouco de criatividade, dá pra fazer muita coisa no powerpoint. Essa ferramenta é incrível. Espero contribuir para que as pessoas não só se aprofundam nesse programa como também em tudo que fizerem em suas vidas. Se você sabe tocar violão básico, tem que meter a cara a fundo para saber explorar todo aquele instrumento. Quando eu aprendo uma coisa, eu vou no limite. Quem me ensinou a fazer isso foi o compositor Frédérik François Chopin, este pianista mas que ninguém explorou o piano no limite da capacidade humana. Acho que devemos ser assim. Se você sabe fazer alguma coisa, se pergunta, será que posso saber mais que isso? Se sei cozinhar bem, será que posso melhorar ainda mais? Se meu trabalho é elogiado pelo chefe, será que posso melhorar ainda mais a ponto de deixá-lo deslumbrado? Gosto de ir no limite e acredite, eu ainda tenho muito que aprender no powerpoint. Gostaria de distribuir o filme em DVD mas sem ser arquivo de vídeo. Acho que seria legal deixá-lo somente para ser visto no powerpoint. Ele foi feito lá e de lá não deve sair.
Gostaria de agradecer essa entrevista, muito obrigado.

Serviço:

CINE CLUBE FORA DO EIXO VESPASIANO
Onde: Cine Teatro Capucho, Vespasiano / MG
Quando:06/09/2011, 20 hras
Quanto: Grátis
O que: Lançamento do filme “PAPÉIS DE COPÉRNICO”
Direção e Roteiro: Marcelo Diniz
Produção: Point@art









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